Este ano decidi ler a minha altura em livros. Era isso ou não chorar. Como não sou muito grande, a tarefa não era difícil. O problema chegou quando percebi que quanto mais lia, mais crescia. Seria belo se fosse um crescer absoluto, mas era apenas relativo. É um gosto muito, mas de outra forma.
Assim, quando me afastava dos livros, mingava instantaneamente. Começava-me a faltar. As palavras que tinha lido, e que pensava que tinham ficado gravadas em mim, saiam-me pela pele. Nestes momentos, apontavam frequentemente para mim, e diziam-me que estava a deixar cair palavras. Aflito, para não as perder, mas principalmente para não me lerem, tentava apanhá-las. Como nunca consegui recuperar uma única palavra, decidi sacudir-me para me perder ainda mais. Não queria confundir, mas porque achava que as minhas palavras me fragilizavam, necessitava amparar-me.
Embora maior, para o meu objectivo, os livros faziam-me sempre pequeno, e de rompante dizia que preferia nunca ter lido, quando o que realmente queria era nunca parar de ler. Afastava para nunca ter saudades. Disparates.
sábado, 22 de outubro de 2016
António Variações: Canção do Engate
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